Considerações sobre o AEE para
pessoas com surdez
Assistimos, há séculos, um embate
entre oralistas e gestualistas no que diz respeito a educação da
pessoa com surdez, onde o foco dessa discussão está no fracasso e
culpa dessa ou outra língua utilizada. No entanto, já há uma nova
concepção da pessoa surda como um indivíduo que tem apenas
limitações perceptivas, sendo assim, plenamente capaz de
desenvolver outras habilidades.
É preciso construir um campo de
comunicação e interação amplo, onde as línguas tenham sua
importância, sem ser, no entanto, o centro de todo o processo, para
assim, evitarmos a dicotomização com caráter puramente
segregacionista.
A tendência bilíngue se mostra
promissora nesse sentido, já que valoriza as duas línguas na
aprendizagem da pessoa com surdez, mas essa tendência deve estar
junto a uma proposta pedagógica totalmente voltada para a inclusão,
caso contrário, não terá grandes efeitos.
O Decreto 5.626/2005 determina a
educação da pessoa com surdez através da Língua Brasileira de
Sinais e da Língua Portuguesa, preferencialmente na modalidade
escrita e de maneira simultânea.
Ao compreender que o foco deve ser a
transformação da escola e das suas práticas pedagógicas, é
possível legitimar a construção do AEE para pessoas com surdez por
meio da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva
Inclusiva.
O AEE PS precisa ser pensado de
maneira a conectar o pensar e o fazer pedagógico, possibilitando a
interação entre professor e aluno em sala comum. Sendo assim, a
Pedagogia Contextual Relacional mostra-se uma boa alternativa, já
que se baseia em um ensino com contextos significativos, descartando
tudo o que é inútil, sem valor real para a vida (Damázio, 2005).
Esta é uma forma do aluno com surdez se sentir situado e compreender
os conteúdos estudados com mais facilidade. Para efetivar o
cotidiano escolar do AEE PS, aplicamos a Metodologia Vivencial que
consiste em levar o aluno a aprender a aprender, através do estímulo
ao ato de pensar e levantar hipóteses, constuindo assim, a
aprendizagem significativa.
O AEE PS carece, num primeiro momento,
de uma avaliação diagnóstica do aluno para possibilitar que o
professor elebore esse Atendimento que envolverá três momentos: AEE
em Libras, AEE para o ensino de Libras e AEE para o ensino de Língua
Portuguesa.
AEE em Libras
Deve ocorrer diariamente, em turno
inverso ao de aula comum do aluno, onde o professor acompanha o
conteúdo oficial da escola e da turma do aluno e elabora suas aulas
com riqueza de recursos visuais e até mesmo utilização de teatro,
a fim de facilitar a aprendizagem do aluno sobre o conteúdo
abordado. Essas aulas devem ser ministradas antecipadamente à
apresentação do conteúdo em sala comum, garantindo uma melhor
assimilação dos conceitos nas duas línguas.
AEE para o ensino de Língua
Portuguesa
Esse atendimento deve ocorrer em turno
inverso ao da aula em sala comum, ministrado por um professor
habilitado em Letras e com bons conhecimentos sobre o ensino da
língua para pessoas com surdez. O objetivo desse atendimento é
possibilitar a geração de sequências linguísticas por parte da
pessoa com surdez e necessita de amplo acervo textual, presença de
pistas escritas pré-estabelecidas, ação diagnóstica por parte do
professor e cuidado para que este não utilize a língua de sinais.
Nesse atendimento, o canal de comunicação específico é a Língua
Portuguesa, ou seja, leitura labial, leitura em escrita.
Svartholm (1998, p.42), compreendendo
a importância da exposição da pessoa surda à língua portuguesa,
defende ainda a precocidade desse processo:
A leitura de livros e
revistas deve ser feita com crianças em fase pré-escolar, porque
diverte, estimula e satisfaz a curiosidade da criança, e não por
causa de objetivos educacionais. Através da leitura, a criança será
bem preparada para o ensino posterior de uma segunda língua: uma
postura em relação a língua escrita como algo divertido e
interessante deve ser a melhor base para novos aprendizados.
AEE para o ensino de Libras
Esse atendimento deve ser realizado,
preferencialmente, por um professor com surdez, a fim de que a
aprendizagem seja natural que se evite o bimodalismo e deve ser
planejado com base no diagnóstivo prévio e constante sobre os
conhecimentos que o aluno possui sobre a Língua de Sinais.
O espaço para esse atendimento deve
ser rico em recursos visuais e as verificaçõe de aprendizagem devem
ser feitas por meio de fichas de acompanhamento da evolução do
aluno.
O AEE de Libras oferece segurança e
motivação ao aluno, sendo de extrema importância para a inclusão.
Referência:
DAMÁZIO,
M.F. e FERREIRA J. de P. Educação escolar de pessoas com
surdez – Atendimento Educacional Especializado em construção.